Pacientes com tumores cerebrais malignos apresentam maior risco de trombose. Até agora não sabíamos os mecanismos por trás disso. Um estudo interdisciplinar, recentemente publicado no jornal Blood, mostrou, pela primeira vez, que uma proteína especial chamada podoplanina está envolvida no desenvolvimento de tromboses que se formam na superfície das células tumorais.
“As tromboses são uma complicação comum de doenças cancerosas, que afetam o sistema de coagulação do sangue e podem ativá-la. O risco geral de trombose em pacientes com câncer é aproximadamente 4 a 7 vezes maior do que em pessoas sem doença maligna subjacente. Pacientes com câncer que desenvolvem tromboses têm maior risco de mortalidade. Um tromboembolismo venoso (VTE) – um vaso bloqueado no sistema vascular venoso – é influenciado pelo tipo de câncer. Os tumores cerebrais malignos estão entre os tipos de câncer com maior risco de trombose e as tromboses também são comuns em pacientes com câncer de pâncreas e câncer de pulmão. No caso de um tumor cerebral maligno, existe uma probabilidade de 15-20% de sofrer um tromboembolismo venoso”, explica o cirurgião vascular Ulisses Mathias.
Agora, descobriu-se que a proteína podoplanina, que normalmente está presente no sistema linfático e é importante para o desenvolvimento embrionário, por exemplo, pode ser formada no tecido de pacientes com tumores cerebrais. Ela serve para ativar as plaquetas sanguíneas, que são um componente importante do sistema de coagulação do sangue. Para o estudo, que foi realizado como parte do “Estudo de câncer e trombose de Viena (CATS)”, que já tem a duração de mais de 10 anos, amostras de tecido de tumores cerebrais de 213 pacientes foram coradas por meio de técnica especial, para identificar o potencial de expressão da podoplanina. Verificou-se que o aumento da expressão da podoplanina é um forte indicador da ocorrência de tromboembolismos venosos. E que o risco de TEV em pacientes com tumores cerebrais malignos foi seis vezes maior ao longo de um período de observação de dois anos.
Para entender os mecanismos subjacentes ao aumento da suscetibilidade à trombose, os pesquisadores também estudaram a agregação de plaquetas no sangue. Os resultados mostraram que quanto mais agregações de plaquetas, mais podoplanina estava presente no tecido. Por outro lado, poucas plaquetas foram medidas no sangue, uma vez que foram utilizadas para a ativação da podoplanina. Por meio de experiências in vitro, os pesquisadores conseguiram confirmar que as linhas de células tumorais positivas para podoplanina ativam as plaquetas sanguíneas e fazem com que elas se agregem.
“Os resultados do estudo mostram que, ao ativar as plaquetas sanguíneas, a podoplanina pode levar à ocorrência de tromboembolismo venoso. O estudo foi, portanto, capaz de identificar um possível mecanismo subjacente, pela primeira vez, e isso pode ter consequências, de longo alcance, para a futura profilaxia e tratamento de trombose em pacientes com tumores cerebrais malignos”, explica Ulisses Mathias.