Depressão e doença arterial periférica: maior risco de amputação e morte

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Uma descoberta recente, publicada no Journal of Vascular Surgery, concluiu que pessoas com doença arterial obstrutiva periférica (DAOP) e depressão são mais propensas do que outros pacientes a sofrer amputação e morte devido à doença.

Pesquisas anteriores apontaram para uma relação significativa entre depressão e doença arterial periférica. Muitos pacientes com DAOP descobrem que sua doença não vai piorar muito, mas o cenário não é tão otimista para quem está deprimido. Este último estudo não apenas reforça o vínculo entre depressão e DAOP, mas sugere um vínculo com os piores resultados.

A DAOP afeta mais de 200 milhões de pessoas em todo o mundo, incluindo mais de 8 milhões de americanos, a maioria com mais de 50 anos, de acordo com os Institutos Nacionais de Saúde e os Centros de Controle de Doenças.

“A depressão é um fator de risco pouco reconhecido para a DAOP. As descobertas recentes demonstram que pacientes com DAOP com depressão têm maior risco de morte e amputação a longo prazo. É muito importante entender melhor o efeito dos distúrbios de saúde mental nas doenças cardiovasculares para encontrar  melhores soluções terapêuticas”, afirma o cirurgião vascular Ulisses Ubaldo.

A DAOP ocorre quando a aterosclerose, ou o endurecimento das artérias, bloqueia o fluxo de sangue rico em oxigênio para as extremidades, principalmente as pernas e os pés. Pacientes que foram diagnosticados com DAOP geralmente estão sob os cuidados de um cirurgião vascular. Os cirurgiões neste campo são altamente treinados no tratamento de distúrbios da circulação e tratam todas as áreas do corpo, com exceção do coração e do cérebro.

Para realizar o estudo, os pesquisadores revisaram dados de 155.647 pacientes com DAOP e descobriram que 16% deles foram diagnosticados com depressão. Outros estudos descobriram uma ocorrência de depressão em pacientes com DAOP tão alta quanto 46%.

Pacientes com DAOP deprimidos que não estavam tomando antidepressivos tiveram um risco 42% maior de amputação em comparação com aqueles sem depressão; se tomavam remédios para depressão, o risco era menor, mas ainda representava um risco 10% maior de amputação em comparação com os pacientes sem depressão.

Se a depressão é uma causa da DAOP, por que isso ocorrer? Pesquisas anteriores em pacientes com doença arterial coronariana e depressão sugerem que talvez o estresse desencadeie uma reação química em cadeia nos hormônios – como cortisol e adrenalina – que podem afetar o sistema imunológico e a coagulação sanguínea. Se isso acontecer em combinação com outros fatores de risco, como tabagismo, diabetes, falta de atividade ou falta de medicação, o risco de complicações pode aumentar.

Isso pode ser apenas parte da equação, no entanto. Em um artigo escrito recentemente, os autores apontam que outros pesquisadores descobriram que a relação entre DAOP e depressão pode ser de ambos os lados, ou seja, uma condição pode afetar a outra. “Embora a direcionalidade desse relacionamento permaneça incerta, as evidências que vinculam essas duas doenças são inegáveis”, aponta o artigo.

Como prática padrão, os cirurgiões vasculares podem não perguntar sobre depressão aos pacientes durante a primeira consulta, mas os autores do estudo acreditam  firmemente que o diagnóstico e o tratamento da depressão em pacientes com DAOP são fundamentais para o tratamento do paciente como um todo.

“Ainda temos muito a aprender sobre a relação entre DAOP e depressão, mas há definitivamente algo aí, pois a depressão e o estresse podem afetar várias outras doenças crônicas. É necessário rastrear e abordar problemas de saúde comportamentais em nossos pacientes, pois isso pode afetar a resposta ao tratamento, bem como a qualidade de vida e o trabalho do paciente e de seus entes queridos. Precisamos agora analisar todos esses dados e decidir como agir para resolver esse crescente problema de saúde da população”, diz Ulisses Ubaldo.