Todos os anos, cerca de 1,38 milhões de mulheres em todo o mundo são diagnosticadas com câncer de mama. Os avanços no diagnóstico e no tratamento proporcionaram uma taxa de sobrevivência de 90%, em cinco anos, entre as pacientes tratadas. No entanto, com o aumento da taxa e o tempo de sobrevivência após o câncer de mama, as pacientes enfrentam um risco, ao longo da vida, de desenvolver linfedema, um dos efeitos mais dolorosos e temidos do câncer de mama de início tardio.
“O linfedema é uma acumulação anormal de fluido linfático ipsilateralmente ou nos membros superiores. O linfedema continua a ser um importante problema de saúde, que afeta mais de 40% das 3,1 milhões de sobreviventes de câncer de mama, nos EUA, após a cirurgia de câncer de mama. Geralmente é causado principalmente por uma lesão mecânica provocada pela cirurgia. No entanto, pesquisas recentes descobriram que a inflamação-infecção e um maior índice de massa corporal também são preditores do linfedema”, explica o cirurgião vascular Ulisses Ubaldo.
Pesquisadores da Universidade de Nova York realizaram um estudo para abordar este fenômeno e examinar prospectivamente o fenótipo do linfedema do braço pelo volume do membro e os sintomas do linfedema em relação aos genes inflamatórios em mulheres tratadas para câncer de mama.
O estudo, publicado em The Breast, é o primeiro de seu tipo na exploração de associações entre suscetibilidade genética visando fatores de risco fenotípicos identificados de inflamação e fenótipos heterogêneos de linfedema.
“Continua sendo intrigante que até 23% das sobreviventes que fizeram uma tumorectomia com biópsia ganglionar sentinela de 1 ou 2 linfonodos removidos desenvolveram linfedema, enquanto algumas sobreviventes que fizeram uma mastectomia com mais de 10 linfonodos removidos não desenvolvem o problema. Existe uma necessidade crítica de compreender a heterogeneidade do fenótipo do linfedema em relação à avaliação do fenótipo do linfedema e aos mecanismos biológicos relacionados”, destaca o cirurgião vascular.
Os pesquisadores reuniram dados de 136 mulheres com idade média de 52 anos com diagnóstico de câncer de mama pela primeira vez (Fase I-III), com tratamento cirúrgico agendado para tumorectomia ou mastectomia. Analisaram os dados em 4-8 semanas após a cirurgia e 12 meses após a cirurgia para monitorar o desenvolvimento do linfedema durante esse período. Eles usaram a fenotipagem do linfedema para medir mais sintomas do que o método típico de observação de inchaço e volume dos membros. A fenotipagem dos sintomas foi importante ao indicar o linfedema em estágio inicial, onde o volume do membro não pode ser avaliado ainda.
Então, descobriram que usando a fenotipagem dos sintomas, antes da cirurgia, apenas uma participante apresentava mais de 8 sintomas e 18 apresentavam sintomas 1-7. 4-8 semanas após a cirurgia, todas as participantes tinham pelo menos um sintoma, 53% apresentavam 1-7 sintomas e 46% tinham mais de 8 sintomas, enquanto apenas 16% tinham linfedema de braço definido pelo aumento do volume do membro. 12 meses após a cirurgia, 26,5% apresentaram mais de 8 sintomas e 63% relataram sintomas 1-7, enquanto apenas 22,8% tiveram linfedema de braço conforme definido pelo volume do membro.
Antes da cirurgia, a identificação dos fenótipos dos sintomas não era viável, já que 86% das participantes estavam livres de sintomas. No entanto, entre 4 a 8 semanas após a cirurgia, 58,1% dos participantes foram classificadas como fenótipo da mobilidade do membro comprometido, com 86% de desconforto e 55,9% de acumulação de fluidos. Aos 12 meses, 55,2% das participantes foram classificadas como fenótipo de mobilidade de membros com 38,2% de dor / desconforto e 44,1% com acumulação de líquido.
Esses dados encontraram associações significativas entre genótipos relacionados a vários genes linfáticos e inflamatórios e fenótipos de sintomas de mobilidade de membros prejudicados, acumulação de fluido e dor / desconforto. Os dados fornecem ainda suporte para a heterogeneidade de fenótipos do linfedema, especialmente fenótipo de clusters de sintomas com base em mecanismos biológicos.
As evidências do estudo sustentam que as intervenções para promover o fluxo do fluido linfático e diminuir o índice de massa corporal demonstraram efeitos positivos para o fenótipo de acumulação de líquido. Além disso, o estudo ressalta a necessidade de pesquisa e exploração adicionais para avançar na compreensão.
“A avaliação de precisão da heterogeneidade do fenótipo do linfedema e a compreensão do mecanismo biológico de cada fenótipo, através da exploração da suscetibilidade genética hereditária, é um passo lógico para encontrar uma cura para esta condição crônica. A equipe de pesquisa estabeleceu as bases para, e mostrou a importância de, mais estudos sobre este assunto. Espero que isso nos ajude a obter uma melhor compreensão do linfedema que acabará por levar a uma cura”, defende o cirurgião vascular.