“As úlceras diabéticas são uma complicação prevalente em milhões de pessoas. As estimativas indicam que cerca de um terço das pessoas com diabetes desenvolverão pelo menos uma úlcera no pé ao longo da vida. Essas feridas podem levar a complicações adicionais, como acidentes vasculares cerebrais, ataques cardíacos, infecções, perda de membros e morte prematura”, explica o cirurgião vascular Ulisses Mathias.
No entanto, a morbidade e a mortalidade diretamente associadas às úlceras nos pés, muitas vezes, não são reconhecidas tanto pelos médicos, como pelos pacientes. Atualmente, o foco clínico é a reparação do tecido circundante de uma úlcera e a cicatrização da ferida.
Em vez disso, os médicos e os pacientes precisam se concentrar na remissão da úlcera, defendem os autores de um estudo recém-publicado, – ou seja, estender o tempo entre a formação de úlceras. A extensão dos dias sem úlceras dos pacientes usando o tratamento e a prevenção é essencial, de acordo com um o estudo de Armstrong e seus co-autores. O trabalho foi publicado no New England Journal of Medicine.
O artigo é o primeiro de seu tipo a chamar a atenção para a remissão. A palavra “remissão” foi mencionada na literatura nos últimos anos. Mas este trabalho dá grande ênfase ao fato, e mais do que qualquer outro trabalho antes, apresenta dados de uma maneira que mostra como curar as úlceras e o que fazer no ínterim em que as feridas estão curadas.
“As pessoas que têm úlceras do pé diabético possuem uma capacidade diminuída de sentir dor associada ao estresse repetitivo em áreas específicas do pé. Uma vez curada a úlcera, cerca de 40% dos pacientes terão recorrência de algum tipo em um ano. Isso se eleva a três quartos dos pacientes por cinco anos. Os autores comparam o diabetes ao câncer porque a morbidade e a mortalidade são semelhantes. Mas os médicos ainda não tratam o diabetes como câncer”, diz Ulisses Ubaldo Mathias.
O diabetes pode ser mais significativo do que muitas formas de câncer. Este é um conceito que está sendo alinhado agora em medicina. “À medida que nos aprofundamos nas doenças de velhice, como câncer, doenças cardiovasculares, diabetes – o objetivo de médicos, cirurgiões, cientistas e formuladores de políticas é retardar o seu aumento”, destaca o cirurgião vascular.
O diabetes é único porque as pessoas podem ferir-se inconscientemente. “As pessoas podem ter uma ferida no pé e nem saber. Essas feridas são cobertas por um sapato ou uma meia, e muitas vezes a pessoa com diabetes pode sentir pouca ou nenhuma dor”, diz Ulisses Ubaldo.
Mas o desenvolvimento de uma úlcera no pé diabético significa que as chances de uma pessoa viver mais 10 anos são metade daquelas que não desenvolveu uma, destacam os autores. Além disso, as úlceras nos pés e as infecções aumentam dramaticamente as chances de uma pessoa ser internada.
Os pesquisadores examinaram dados de 5 bilhões de consultas ambulatoriais e descobriram que as úlceras do pé diabético e as infecções dos pés diabéticos eram surpreendentemente fatores de alto risco para hospitalização. A taxa de admissão é comparável ou superior à da insuficiência cardíaca congestiva, doença renal, depressão e a maioria dos tipos de câncer.
“Para reestruturar a forma como o diabetes é visto e tratado, os médicos devem começar a falar com seus pacientes sobre as complicações graves da doença, da maneira como eles falam com seus pacientes sobre câncer e enfatizam que com novas tecnologias e cuidados contínuos, como uma dose cuidadosa de atividade física, a remissão pode ser prolongada”, defende o médico.
A verdadeira ideia aqui é que os médicos ajudem as pessoas a conviverem com a doença um pouco melhor e lhes dêem mais dias sem úlcera e mais dias ricos em atividades.